Com prejuízo estimado em R$ 90 bilhões, o turismo é um dos setores mais afetados pela pandemia no Brasil. No mês de abril, a Organização Mundial de Turismo (OMT) registrou queda de 97% no número de viagens turísticas. Mas, em meio a tantas notícias ruins, parece que o pior já passou.
Após meses de atividades suspensas, o turismo começa a mostrar sinais de recuperação. Muitos países, principalmente na Europa, já estão diminuindo as restrições de viagem e até mesmo abrindo as fronteiras para estrangeiros, alguns com mais cautela do que outros. A retomada, no entanto, deve acontecer de forma gradual e num âmbito regional, com viagens curtas e preferência por destinos dentro do próprio país.
No Brasil, apesar do número de casos seguir aumentando, empresas do setor de turismo começam a se preparar para a retomada das atividades. Segundo uma pesquisa do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), 84,7% dos estabelecimentos que estavam com operações suspensas pretendem reabrir em julho. A demanda por hotéis regionais cresceu 25% em junho, com as regiões Sul e Centro-Oeste liderando as procuras, de acordo com Emerson Belan, da CVC.
O setor de hospitalidade, no entanto, terá que se adaptar ao “novo normal” das viagens pós-pandemia. Hotéis terão que seguir um rígido protocolo de higiene e distanciamento, o que acarretará em maiores custos para os estabelecimentos. Para Leonel Andrade, presidente do grupo CVC, “consumidores vão priorizar companhias aéreas, hotéis e destinos que estão cuidando mais da higiene”.
Apesar da retomada das viagens internacionais, o turismo doméstico – o chamado staycation – é o que mais deve se beneficiar com a nova realidade. Segundo levantamento do Sebrae-SP, cerca de 53% dos turistas brasileiros pretendem viajar dentro do país ainda em 2020. Muitas pessoas deixarão de viajar para o exterior devido ao câmbio desfavorável e às exigências para entrada em outros países. Alguns destinos exigirão o pagamento de uma taxa para cobrir gastos com a saúde e quarentena de, pelo menos, 14 dias. Outros destinos, como Estados Unidos e a União Europeia, baniram a entrada de brasileiros, pelo menos até que a situação esteja controlada no Brasil. Estima-se que cerca de 12 bilhões de dólares deixarão de ser gastos no exterior em 2020 – dinheiro que poderá ser gasto dentro do Brasil.
O turismo de natureza também é apontado como uma das tendências para os próximos meses. Atrações como cachoeiras, trilhas e montanhas aparecem entre os destinos mais buscados entre os turistas, já que permitem um maior distanciamento social e geralmente ficam a poucas horas de distância de carro. Viagens deste tipo devem atrair principalmente moradores da cidade grande, que por muito tempo ficaram confinados dentro de suas casas.
A crise é, acima de tudo, uma oportunidade para incentivar a criatividade, inovação e cooperação entre as empresas do setor de viagens. A OMT lançou recentemente uma série de diretrizes para impulsionar o turismo ao redor do mundo, que inclui uma parceria com o Google para promover treinamento e formação de profissionais de forma gratuita através da internet. O World Travel and Tourism Council (WTTC) criou o Safe Travels, um selo de garantia que comprova o cumprimento dos protocolos de distanciamento e higiene nos principais destinos de viagem.
Outras iniciativas, como o Movimento Supera Turismo, buscam incentivar o turismo dentro do Brasil por meio da colaboração entre os setores público e privado, além de orientar os viajantes sobre os cuidados necessários. Há ainda o site Meu Destino é Brasil, que permite aos turistas consultarem a situação de hotéis, restaurantes e outros atrativos em diversos destinos do país.
A volta à normalidade, no entanto, ainda deve demorar. Uma pesquisa do Observatório de Turismo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostrou que 51% dos profissionais de turismo veem a recuperação do setor apenas em 2021. Os entrevistados, porém, seguem otimistas: apenas 3% acredita que o prejuízo seja irreversível, o que significa que há um longo caminho de oportunidades e novos negócios pela frente. Ninguém sabe quando a pandemia irá terminar, mas todos sabemos que as pessoas nunca deixarão de viajar.